ano 2011, Parte IV (continuação)

Ext. Praia. Meio dia e pouco.

Eles estão na praia. Agora estão sentados, no mesmo lugar.

_ Claro que não, seu bobo!

_ Ahn?! Ai meu coração. Por quê você fez isso?

_ Eu não fiz nada, você que foi mongo e não reconheceu a brincadeira.

_ Ah... Acho que todo mundo foi mongo então. Aposto que ninguém reconheceu a brincadeira, sua sem graça.

_ Vai ser engraçado. É o tipo de brincadeira que a gente vai achar graça depois. Quer dizer, você vai achar graça depois, eu já estou achando graça agora.

_ É o tipo de brincadeira que foge do assunto: de quem são essas roupas?

_ Ah, é. Não falei?

_ Não.

_ São do meu irmão, bocó.

_ Sua sem graça, muito barulho por nada.

_ Hum, que romântico recitando Shakespeare para mim.

_ Ahn?... Ah, entendi. A peça Muito Barulho por Nada. Nada romântica aliás.

_ Demorou a entender, hein. O que foi? Ainda está chocado com a brincadeira, é?

_ Talvez. Talvez eu tenha me dado conta do quanto me importo.

_ Eu também me importo. Mas foi engraçado ver sua carinha, todo borocoxô, parecia passarinho na chuva.

_ “Borocoxô”... Depois o velho sou eu.

_ Meu Richard Gere

_ [interrompendo] Ah, não, chega de uma linda mulher. Você prometeu.

_ Por isso que não gosto de promessas, as pessoas nunca cumprem. Para mim romance de verdade não tem juras ou promessas.

_ Pelo visto você não entende nada de romance. Ou não gosta.

_ Entendo sim. Só não acredito em amor eterno, almas gêmeas e, principalmente, promessas.

_ Só isso, né. O quê que sobra então? As contas a pagar? Isso sim é romântico.

_ Não, bobinho. Sobram as duas ideias mais românticas do mundo, duas ideias que me perseguem desde que eu tinha 10 anos, quando me apaixonei pela primeira vez.

_ Ah, que linda, 10 aninhos... Então o seu primeiro amor teve a força de definir todos os outros? Isso também é romântico.

_ É, por isso dificilmente vou mudar de ideia. Porque romance tem a ver com ser algo único e tenho certeza de que não haverá mais de 1 homem a fazer esses gestos para mim.

_ E já houve algum?

_ Não, nunca. Talvez ninguém nunca faça, ou talvez um dia... A vida vai dizer.

_ Ainda não? Hoje é um dia. Bem, é claro que algum homem vai fazer, mesmo que seja eu.

_ [cantando] “um homem pra chamar de seu, mesmo que seja eu”. Com essa sua noção de romantismo, eu duvido.

_ A vida é curta, baby. É melhor não perder tempo duvidando.

_ É a vida é curta.... Quando te vi dormindo, resolvi te acordar porque de repente veio essa ideia fixa na minha cabeça a vida é curta, a vida é curta... E ficou dando cabriolas na minha cabeça, igual a ideia fixa de Brás Cubas.

_ A ha! Eu não dormi enquanto você estava falando!

_ Claro que não. Eu que dormi quando você começou a falar sobre suas ideias sobre a morte. E que morrer não faz sentido

_ [interrompendo] Então é melhor que a vida faça.

_ Ah, “é melhor que a vida faça”, não tinha escutado essa parte. Gostei. Mas que a vida é curta, é.

_ É curta mesmo... Por isso sonhar é melhor do que viver: então não me acorde mais!

_ Ai, que vida curta, meu Deus. Como posso caber toda nela?!

_ Como amar infinitamente nesse vapor, suspiro, grão, gota, espuma, gozo de vida?

_ Como criar sentidos, caminhos, viagens nesse caos vago impreciso lindo universo?

_ Como explorar destinos, aventuras, brincadeiras em tantos mundos maravilhosos?

_ Como ser eterna em tão pouco tempo? Como escolher minha estrela predileta?

_ Como escolher para qual paraíso quero ir? A quem vou ensinar a voar?

_ O que houve comigo? Por que de repente fiquei filosofando assim?

_ Deve ser o tal sentimento de Uma Linda Mulher baixando agora.

_ É, eu sou uma linda mulher...

_ Ah, minha linda... Minha puta.