Lancinante

ria e chorava de quando em quando com o contorcer das lembranças e ia por aí caçando passados passando retorcida por dentro por avesso por aquilo que sobrou lancinante de mim

Acentuação Gráfica

assembleia, colmeia, Coreia, dispneico, estreia, ideia, europeia, plateia
alcaloide, apoio (verbo), asteroide, boia, heroico, jiboia, joia, paranoico


O errado agora é certo.
Estou me sentindo meio alcaloide
com a descoberta de que o calendário inca, o tsunami, a reforma ortográfica e minha vida tem alguma ligação,
sim.
Por que não?
Não estamos todos meio radioativos ultimamente?
(eu até vi a Globo dizer que as usinas do Brasil são mais avançadas do que as do Japão.)
Obama veio fazer marketing à nossa custa, quem diria,
pousar ao lado de "comunista" dá voto, quem diria de novo.
Que país é esse?
Dilma's adventures in Wonderland.





dor mente dormente

Agredida, humilhada e desconhecida, sensivelmente desconhecida, essa moça, mulher anônima, é chamada de minha, gostosa, puta.

Diz cenário.

.sucinto.
Acepções
:
conciso,
brisa,
curto,
compresso,
comprimido,
sintético,
espaço,
síntese,
rápido,
veloz,
susto,
queda,

a vida,                                                                          sabão),
(é bolinha de________
suspiro,
piscada,
parêntese,
econômico,
essencial,
limitado,
ira,
ágil,
asas,
amor,
chama,
lacônico,
memória,
resumido,
bilhete,
baixo,
nota,
fino,
frágil,
eco,
bola,
volátil,
efêmero,
brigadeiro,
vírgula,
vontade,
salto,
estar,
arrepio,
breve,
pulo,
paixão,
suicídio.
ponto,
um
conto.

Caminho

_ Então, você se perdeu de novo?
_ É, me perdi de novo.
_ É incrível, sempre se perde. Como você consegue se perder tão fácil?
_ Ora, é muito fácil, difícil é encontrar. Porque para acertar só tem um caminho, e para se perder tem todos os outros.

e disse Eu

Tudo Há de Ser Lindo

"And so it is"

...Repousa o cansaço, a solidão, a espera, o tédio, a saudade do tempo. Sozinho, evito os momentos em que posso me descobrir só. Não sei se a vida que criei para mim me satisfaz, ou melhor, nesses momentos descubro que não. Chega a consciência da mediocridade, da insignificante vida a que me apego... O que me salvaria?, uma poesia, um abrigo antiaério, um beijo..


(01/02/2006)

Deus aos sete


Meu pai me conta uma história fantástica.
E eu quase me lembro dela, de tantas vezes que ouvi. Foi em 1981. Meus pais tinham o hábito de passar o dia na Lagoa de Maricá. Deve fazer quase vinte anos que eu não vou lá, mas o vento, a grama e o infinito das águas rasas marcaram a minha memória. Naquele dia tudo estava igual a todos os outros dias, meu pai lia a bíblia, até que o tempo mudou bruscamente.

Minha mãe veio correndo, parecia que tinha visto um fantasma, ou que ela própria era um. Mal conseguia falar, meu pai a acalmou, e quando finalmente ela conseguiu falar, quem ficou nervoso foi ele.
_ Que isso, Pilar!?, eu tenho que tirar o corpo do homem da água?! De onde você tirou isso?! Nós não temos nada a ver com isso! Logo, eu?, que idéia!, arrastar o corpo de um homem que sequer conheço.
_ Mas, meu bem, a mulher dele está desesperada e ninguém ajuda.
_ Se ninguém ajuda, não deve ser à toa, devem estar esperando os bombeiros, é melhor deixar como está.
_ Ora, e se fosse você, e eu estivesse desesperada, você gostaria que não fizessem nada?
_ Em primeiro lugar, se fosse eu, nunca me afogaria num lugar onde a água não passa da cintura, isso está muito suspeito.
_ Ai, deixa de ser insensível, você sabe que não é o primeiro caso de afogamento aqui.
_ Amor, e por acaso nos outros casos eu fui buscar algum corpo na água?!
_ Poxa, as crianças estão desesperadas, ficam gritando pelo pai.

Foi nesse momento que ele ouviu uma voz: Vai na água.
_ Está bem, Pilar, eu vou. - Fechou a bíblia, andou até a pequena multidão e encontrou a mulher chorando, e disse
_ Se acalme, cuide dos seus filhos, eu vou buscar o corpo do seu marido.

Isso que dá ser casado e ter hábitos estranhos. Tem uma escritura em latim que diz “um abismo atrai o outro”, nessa história uma estranheza atrai outra.

Enquanto andava pela água, ele orava, perguntava a Deus,
_ Oque eu estou fazendo aqui, cruzes!? - Não era uma oração com sábias palavras, mas era extremamente humana. Às vezes, eu penso nesse mundo, e pergunto a mesma coisa: O que vim fazer aqui?

Enquanto não tinha a resposta continuava a andar, como quem um dia vai pisar na linha do horizonte, com paciência e determinação.
_ Ai, meu Deus, o Senhor tem muita certeza de que isso é uma boa idéia, né? - Olhou para trás e viu as pessoas pequeninas, na praia.
Já devia ter andado muito tempo, o sol estava forte de novo, e nenhum sinal do homem que resolveu morrer na hora mais imprópria. Isso era definitivamente a prova mais cabal de que no plano de Deus não estão todas as mortes. Que morte mais sem jeito.

Ouviu a voz: Olhe para sua direita. - Ele olhou, e viu, havia um corpo virado de cara para água,
_ E agora?
_ Leve até a mulher dele. Ô voz mandona.
Pegou-o pelo braço, e começou a arrastá-lo na água. Podia ver que ele estava muito inchado, já devia estar na água há algumas horas. O corpo morto na mão fez a viagem de volta ser mais longa ainda. Entre o nojo, ânsias de vômito e a perplexidade de ver um corpo em tão mal estado, meu pai tinha tempo de perguntar:
_ Por quê?!
Mas acho que Deus não tinha tempo entre uma coisa e outra para responder. Aliás, “por que?” deve ser que Deus mais odeia. Deve se vingar de nós estimulando as crianças na fase do porque.

Nada da praia chegar. Por uns minutos duvidou de que a praia realmente existisse. Sabia que as únicas coisas reais eram ele, o corpo e o senso de humor de Deus. Quando chegou mais perto da praia, um grupo de pessoas veio para dentro da água ajudar, quase sem forças a mulher viúva achava que corria. Ainda sem entender o propósito daquilo tudo, falou duas palavras para mulher, e passou pelo meio do povo, olhou as pessoas olhando o morto.

A barriga do homem morto parecia começar no pescoço, e nunca terminar. Definitivamente a morte havia encontrado a sua cara. O Ceifeiro Implacável parecia um Pastor de Ovelhas perto daquela imagem, que até hoje não sai da memória. Aquilo foi pura ânsia, um nó na boca do estômago, se ver sobre as águas, ver aquilo que um dia todos seremos: um corpo morto, sem propósito.

_ Volte lá!, disse a voz.
_ Como?! - Será que o despropósito não carrega também em si o seu fim?
_ É chegada a hora.
_ Hora de quê? Para aquele homem a hora já passou.
_ Mas para Mim a hora Me pertence.
_ Mas eu já fiz uma parte, não pode pedir a outro? Tudo eu, tudo eu. - Meu pai sentiu a espinha gelar, e por um segundo achou que sua espinha era do morto.
_ Está bem, se o Senhor diz.
Andou de volta, resignado, ficou frente àquilo que seria o seu fim, aliás o fim de todos nós. E disse, olhando para o morto:
_ E agora?

_ Toque na barriga dele.
_ Senhor!, Você está brincando, só pode.
_ Toque na barriga dele.
_ Eu vou fazer isso, só porque o Senhor é gente boa, e é quem É, e está mandando. Porque a última coisa que eu quero é tocar nesse homem morto de novo.
_ Toque, e verá quem tem lhe falado essas coisas.
_ Se é para isso, não carece, não! Eu nunca duvidei que fosse o Senhor, o tempo todinho a me falar para fazer essas coisas.
_ Toque!
Estendeu a sua mão, disse a viúva que se afastasse, e ao povo que a amparasse. Colocou a sua mão sobre a barriga do homem morto.

O homem começou a colocar para fora da boca, muita água, e tudo aquilo que havia comido, ninguém sabia que cabia tantas coisas assim em uma pessoa. A barriga estava quase normal, quando o homem começou a se mexer, e a tossir. Logo, as pessoas chegaram mais perto e ajudam o ressurreto a andar até a praia, onde seus filhos receberam o pai de volta.

O meu pai também voltou para mim. Voltou-se para minha mãe.
_ Vamos embora!
_ Por que?
_ Não me pergunte nada, vamos, fiz o que você me pediu, a família já tem o homem de volta, temos que sair daqui, antes que venham até nós.
Fomos. Fugimos como se tivéssemos matado alguém


Em casa, meu irmão ouviu a história com um misto de fascínio, fé e admiração.
Mal podia ser real a história, mas criança em tudo crê, principalmente no Pai e no pai falando do Pai. Dias depois meu irmão chegou em casa, ofegante, gritou:
_ Pai, pai, pai!!!
_ Que foi, meu filho?! - A criança então mostrou entre suas mãos havia um pássaro morto.
_ Aqui, pai, ressuscita ele.

Isso que dá, criança em tudo crê.
_ Que isso!? Ficou louco?! Como assim, ressuscitar? De onde você tirou essa idéia?
_ Ora, você contou que ressuscitou o homem morto, um passarinho deve ser mais fácil.
(Ai, meus Deus, isso aqui parece mais difícil, e agora?)
_ Meu filho, não fui eu quem fez o milagre, foi Deus.
_ Então, fala com Ele.
(Meu Deus, já não bastava o homem morto, agora vem essa criança com um bicho, quando isso vai parar? Dê um jeito.)
E meu irmão insistindo, :
_ Pai? Pai, cadê? Faz o negócio logo!

_ Christiano, me dê aqui a andorinha. Olha para ela, você acha que ela está sofrendo agora?
_ Não, claro, acho que não.
_ Pois bem, como ela morreu?
_ Eu não sei.
_ Você não sabe?
_ Não, ela deve ter levado uma pedrada.
_ Então, ela levou uma pedrada. Uma pedrada. Você quer que ela leve outra e sofra de novo?
_ Não.
_ Deixa-a descansar.
_ Então, não vamos pedir a Deus para ressuscitá-la.
_ Está bem, boa ideia, é melhor assim.


(04/09/03)
Lu Morena disse...

eu tenho anotado, solto em algum lugar do meu caderninho: O tempo não é sério.