Viviv

Quando penso na possibilidade de deixar de existir, temo pelo mundo. Como se algo terrivelmente triste contaminasse toda a forma de vida e fizesse definhar a Terra. Se eu não estivesse aqui, o mundo acabaria. Enquanto estou, com meus pés atados ao chão, sinto que reside em mim a mesma força que mantém cada átomo vivo. E quando meu corpo finalmente cessar, tudo cantará minha alma.

Vem, então, um novo poema para musicar o mundo, quero que saiba: estou aqui, não está sozinha. Você não precisa se sentir assim, meu espírito acalma o seu. Dôo-me tudo, as minhas costas, seu abrigo, o meu peito, seu descanso; se resiste, tomo-lhe pela mão, quero lhe mostrar que o nosso planeta flutua no espaço, que somos astronautas cercando o sol, e que o nosso destino é voar de par em par, de tanto em quando, até que a morte nos comova.

lu morena

passadio
eu não sei mais como te amo, talvez te ame singelamente por tudo; porém se desse-me só um pedacinho de ti, uma palavra espetada sequer, já seria o meu passadio, suficiente para amar descomensuravelmente. pelo visto te amo assim e assado, por tudo e por cada migalha que você joga no meu labirinto. vou te seguindo e não importa aonde, não busco um lugar, sim a companhia. deixe que os pássaros se alimentem no caminho, não quero voltar atrás a colecionar nossos farelos. desejo seguir o mistério, descobrir como te amo de tal maneira, que bastam suas ruínas, vestígios ou picotes para eu te amar mais um bocadinho...

hoje eu

hoje eu enxergo menos, ouso menos e peso vinte quilos mais,
uma febre no peito queimou minhas últimas lástimas de sanidade,
guardei um segredo que me fez sagrada,
o príncipe fugiu e me largou nua,
estou vaga,
ando na rua,
acerto meus passos com casais mais jovens
quero ouvir o que falam
mas não dizem nada, sorriem um com outro
então sento, fecho os olhos, tenho desligar cada sentido
até sobrarem somente os sons
ouço um hino... e choro
o que será que o tempo fez comigo?
o sofá me vence facilmente
parece que te vi passear num palco
vestida assim parece uma ilusão
é proibido desejar (deus queira que não)
que noite vazia, que lugar sem rumo
escondi o meu nome
zombam da minha história
eu sou a perdição
deixa de ser o que é para ser quem sempre foi
minha
não te recuso nada
estou no teu pesadelo
não durma