Outro personagem

É fascinante pensar o quanto o medo está presente na humanidade, um sentimento sustentado pelo instinto. Muitas pessoas deixam de sentir ódio, controlam sua raiva, param de amar, mas desconheço quem não sinta alguma forma de medo. Se alguém tem medo de barata e resolve encarar esse medo, vai vencê-lo sem dúvida, mas ele vai nascer de novo sob outra forma, talvez, se nunca teve medo de andar a noite na rua, passará a ter. Nosso medo muda de figura e cresce, e nós também.

Existe nisso algo que está além do instinto, existe alguma verdade que revela muito sobre nós, e seria bom se parássemos um pouco para pensar sobre isso.

Ao longo da vida, o medo da morte manifesta-se nos medos irracionais. A barata, por exemplo, é um ser que merecia nossa admiração, resiste 50 vezes mais radiação do que nós, vive semanas sem a própria cabeça, regenera uma perma inteira e tem uma vida sexual muito ativa, além disso não faz mal a ninguém, você alguma vez viu uma pessoa ferida por uma barata? Alguém que pegou uma doença de uma barata? Onde poderia se justificar um medo de uma animal tão inofensivo quanto as simpáticas formiguinhas? Ter medo de baratas faz tanto sentido quanto temer formigas ou borboletas: não se justifica; se bem que as formigas sim picam, quem nunca foi picado por uma formiga? O inconsciente medo de morrer está escondido nos medos de escuro, de barata, da solidão, de mim...

Morrer é um insolúvel problema desconfortante. Aliás em nossa existência cheia de dúvidas, essa tristeza terrível é, ironicamente, a única certeza: tudo está morto, mais cedo ou mais tarde.

Um comentário:

Lu Morena disse...

Eu poderia comentar algo mais relevante, mas escolhi uma pergunta só: vc realmente andou pesquisando sobre a vida das baratas?