caminho

eu passo na rua, faço um novo caminho. daqui até ali são apenas alguns quarteirões, mas para mim não. meus passos vão despertando seres mágicos, escondidos na rachadura, na infiltração, nas manchas do chão, do asfalto, dos muros, nas paredes das casas... tudo é um caderno de desenhos; barulhos dispersos tornam-se sons, tons e notas musicais, pássaros sopranos, bicicletas, a multidão é meu coral, a vassoura raspando o chão imita chocalho. fico com vontade de falar com todo o mundo, “oi moça bonita, vou fazer você sorrir!”, “fala ai amigo, beleza?”, “bom dia! tá tudo lindo, né?” na verdade, não saio gritando, tenho boa noção da minha loucura, vou enviando mensagens telepáticas (claro, porque isso sim é normal). vejo um casal emburrado e ataco de psicoterapeuta telepático de casais, “se olhem bem, vocês são lindos e se amam, não se percam para pequenezas”. dai, me distraio facilmente porque passa por mim uma borboleta, dessas de verdade, não daquelas que fazem figuração em poesia, linda, digo a ela, 'ei, volta aqui!' e lá volta e pousa um segundo na minha mão e lá vai. já é a quarta vez esse mês que isso acontece, começo a achar que elas gostam de mim. quem me vê simplesmente caminhando pela cidade, não sabe que me segue essa multidão, meu mundo está vivo. e amando.

Um comentário:

Lu Morena disse...

Vejo que vc tem cumprido sua resolução tardia de ano novo e escrito e postado e me feito sorrir.
Ainda bem.
Eu leio vc e vejo todas as imagens, como um filminho, na minha cabeça. Este foi bem colorido, lúdico e, estranho?, vc era uma animação num mundo real.