Deus aos doze

Quando era criança, desejava ser transparente, 
mas não como um super poder de um super-herói, 
pelo contrário: a transparência me deixaria frágil.
Revelaria algo escondido aqui dentro, que mesmo eu não conseguia ver. E sentia,
no peito, na boca do estômago, nos joelhos e no fundo dos olhos, algo comichando.
Já tinha a consciência de que algo em mim era subterrâneo,
profundamente escondido na cafurna
que deus havia escavado
na menor alma que havia encontrado naquele dia.

Depois de uns anos, passei a achar que meus segredos eram para ser guardados,
E que na verdade não eram meus, eram pecados de Deus que ele escondia em nós;
quando pareciam vir à tona, 
reprimia, 
queria escondê-los,
e uma enorme solidão tomava conta.

Até que uma bailarina olhou através de mim,
depois me deu seus segredos. 
E então meu primeiro beijo,
junto veio um bilhetinho que dizia assim “Oma et ue”.
Mas não entendi, 
ela sussurrou: eu te amo.
Roubou minhas confidências e meus segredos
deixavam de ser.
Porém Deus vinha aos domingos e guardava novos.
Passei a crer que O segredo faz parte de mim 
e que contá-lo não era simplesmente revelar-me, 
era transcender-me.

Um comentário:

Adrielly Soares disse...

A primeira coisa que veio a cabeça é : "Deus estaria seguro com você guardando os segredos dele".